terça-feira, 15 de março de 2011

RUAS DE UM POLICIAL

Eu estava nas ruas dando segurança à população quando os meus filhos nasceram.

Eu estava nas ruas e perdi os seus primeiros sorrisos, os seus primeiros gestos, as suas primeiras palavras...

Eu estava nas ruas quando eles começaram a engatinhar se por de pé, andar...

Eu estava nas ruas quando eles brincaram de bicicleta, jogaram bola, pião, empinaram pipas e assistiram desenhos a me esperar...

Eu estava nas ruas quando eles iniciaram o aprendizado nas escolas públicas, juntamente com os filhos dos que se encontraram nas ruas,

Eu estava nas ruas quando aprenderam a dançar o “rock-and-roll”,

Eu estava nas ruas quando chegou a puberdade, a adolescência e junto, a revolta, a cobrança, o não-saber o que queria,

Eu estava nas ruas a pensar o que fazer por eles, o caminho a seguir, sem poder oferecer a eles o que eu via com os filhos daqueles que eu protegia nas ruas,

Eu estava nas ruas quando vi surgirem as primeiras rugas no rosto da minha esposa, que também me acompanhava do nosso humilde casebre, sobressaltada pelo barulho das sirenes e com o coração apertado “será que ele volta vivo?!”,

Eu estava nas ruas quando notei os primeiros fios de cabelos brancos, eu estava nas ruas quando nasceram os filhos dos meus filhos,

Eu estava nas ruas e não vi a minha juventude indo embora na escuridão das noites em patrulhas pelas ruas, Eu estava nas ruas quando vieram para a rua os filhos dos meus companheiros das ruas, eu estava nas ruas quando vi os companheiros tombarem no cumprimento do dever,

Eu também estava nas ruas quando vi os filhos das ruas sucumbirem por uma bala disparada por um filho da rua,

Eu estava nas ruas vendo pessoas morrerem nas macas dos hospitais, nas filas das “Santas Casas”, nas cadeias e presídios,

Eu também estava nas ruas quando a elite, as madames, os “mauricinhos”, as “patricinhas” e “outros” passeavam

em seus carrões importados, a conduzir os “caninos”

tosados e perfumados, em coleiras banhadas a ouro,

Eu estava nas ruas vendo as criancinhas pobres, negras

morrerem de fome, drogadas, massacradas, abandonadas à miséria...

Eu estava nas ruas vendo injustiça, paternalismo e nepotismo,

Eu estava nas ruas e vi os filhos das ruas sendo obrigados a pagar o banquete promovido pelos filhos dos que não vivem nas ruas,

Eu estarei nas ruas para ver os clones, todos iguais...

idênticos,

Eu estarei nas ruas a perguntar quem era branco ou

negro: Adão ou Eva...

Eu estou nas ruas e continuarei nas ruas, na árdua

Tarefa de guardião da segurança, a pensar – quem sabe!

- que o sangue, o suor e trabalho feito pelos anônimos

das ruas possam ser vistos, lembrados e frutificados

pelas mãos do nosso Criador!...


Zival Joaquim Pereira – Maj PM

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